Nós
ARTISTAS, É uma Missão?
Os
vida dos artistas antes da regulamentação da profissão, era bastante difícil,
além de não serem reconhecidos como trabalhadores, para que pudessem estar tranquilamente
sentados em uma mesa de um restaurante em horário noturno, e não serem
abordados pela polícia confundidos com prostitutas ou vagabundos, era
necessário que apresentassem uma
carteirinha de saúde. Os espetáculos não eram liberados para apresentação
pública sem antes passarem pelo crivo da Censura Federal . Quanto à regulamentação da profissão,
hoje o cenário mudou, felizmente.
Mais
que uma profissão, os artistas carregam a responsabilidade de uma missão. Pensando assim, que conteúdo estamos
oferecendo ao nosso público consumidor?
Qual
o nosso comprometimento com os interesses da nossa própria categoria? Temos
feito um movimento legítimo pela nossa organização definitiva, pela união dos
nossos interesses através da nossa entidade representativa? Temos nos
preocupado com um constante aperfeiçoamento da nossa qualidade artística e
técnica? Temos nos comportado como trabalhadores que somos?
Onde
está o nosso limite entre o sonho, ou ilusão da fama, e a realidade da nossa “missão”?
Como
pretendemos estabelecer o equilíbrio e procurar a possibilidade de auto sustentação
como profissionais?
Temos
consciência do nosso papel como agentes de construção de cidadania?
Vamos
refletir: A profissão agora está na moda, como nunca esteve, e
muitos jovens a procuram sem idéia nenhuma das especificidades técnicas,
exigências legais, e dificuldade em
matéria de sobrevivência.
Como
nos adequar às novas tecnologias nesse
mercado?
A
profissão foi regulamentada em 1978 , Decreto nº 82.385, de 5 de
outubro de 1978 - Regulamenta a Lei nº 6533, de 24/05/1978, e não podemos permitir a possibilidade
retrocesso. Obviamente já são necessários os devidos ajustes à legislação.
Nestes 33 anos muita coisa mudou, novas funções foram criadas. A nossa postura
e consciência profissional devem resistir a lobbys, e a qualquer interesse
contrário à manutenção do único mecanismo legal, que nos defende como
trabalhadores.
O
que nós precisamos mesmo é discutir quem somos nós enquanto artistas e
técnicos, nos conscientizarmos da importância do registro profissional ,
da sindicalização , formação ética e
profissional. Resumindo, o que precisamos é nos profissionalizarmos de fato e
de direito. Os sindicatos
estão discutindo a reformulação do Quadro anexo de funções, que é necessária,
para podermos atuar objetivamente na
luta pelos nossos direitos e consolidar nosso mercado de trabalho.
É
comum o questionamento da necessidade do registro, e o clamor pelo acesso livre ao
trabalho artístico. Interessante constatar como todos se acham talentosos o
suficiente, e prontos para subir ao palco, ou tomar a frente das câmeras sem a menor preparação, ou formação
sistemática.
Sem
união e clareza de princípios não seremos categoria.
Claro
está que registro profissional não é um certificado de qualidade e sim de
habilitação ou capacitação profissional.
Um
trabalhador não vê o seu sindicato como “coisa sem importância, minimizando a
sua função.
A
visão de alguns é de que o “sindicato” é
coisa de operário e os artistas não se vêem como trabalhadores , aprendi isso
com Aluizio Cherobim, nosso baluarte artista, sindicalista do Paraná,
lamentavelmente falecido este ano.
A
dignidade do exercício da profissão foi evidenciada na época da didatura, pois
havia uma resistência.
Nós
tínhamos um objetivo artístico e estético.
O objetivo de resistir serviu como elo de união.
No
momento da redemocratização desaparece esse objetivo , porque de certa
forma estava conquistado.
E
cada um passou a pensar individualmente,
apenas no seu ganha pão.
E ficamos muito de “pires” na mão. Nós reclamávamos
da censura, da ingerência do
Estado, mas queríamos que o
Estado financiasse.
Até
hoje olha-se para o Ministério da
Cultura como um órgão subvencionador.
Não tínhamos até aquele momento uma política cultural, hoje é
diferente,
temos um Plano Nacional de Cultura, um Sistema Nacional de Cultura.
E
sem dúvida esse Sistema também deverá ter a observância da Lei 6533/78, e implementado,
será mais um instrumento para uma gestão compartilhada entre Estado e Sociedade, integrando os três níveis de
Governo para uma atuação pactuada e planejada, democratizando as decisões intra
e inter governos e, garantindo a participação da sociedade.
O
destaque dessa construção por Estados e Municípios, inclusive já em processo em
todo Brasil, claro com diferenças, engloba a constituição de conselhos de
política cultural democráticos, realização de conferências, elaboração de
planos de cultura através da participação da sociedade aprovados pelos
legislativos, criação de sistemas de financiamento com fundos específicos para
a cultura, indicadores culturais.
È
chegada a hora de atender o chamado do amadurecimento, e aprender as lições
ensinadas por tantos anos de luta pelos nossos direitos.
Precisamos
nos unir para garantir condições de trabalho, contratação digna, possibilidade
de aposentadoria, e o mais importante: garantir que o nosso público seja
brindado com o nosso grande potencial criativo, nossa seriedade profissional,
comprometimento com a qualidade e a nossa decisão de fazer a diferença.