terça-feira, 8 de maio de 2012


Nós ARTISTAS, É uma Missão?



Os vida dos artistas antes da regulamentação da profissão, era bastante difícil, além de não serem reconhecidos como trabalhadores,  para que pudessem estar tranquilamente sentados em uma mesa de um restaurante em horário noturno, e não serem abordados pela polícia confundidos com prostitutas ou vagabundos, era necessário que apresentassem  uma carteirinha de saúde. Os espetáculos não eram liberados para apresentação pública sem antes passarem pelo crivo da Censura Federal .  Quanto à regulamentação da profissão, hoje  o cenário mudou, felizmente.

Mais que uma profissão, os artistas carregam a responsabilidade de uma missão.  Pensando assim, que conteúdo estamos oferecendo ao nosso público consumidor?

Qual o nosso comprometimento com os interesses da nossa própria categoria? Temos feito um movimento legítimo pela nossa organização definitiva, pela união dos nossos interesses através da nossa entidade representativa? Temos nos preocupado com um constante aperfeiçoamento da nossa qualidade artística e técnica? Temos nos comportado como trabalhadores que somos?

Onde está o nosso limite entre o sonho, ou ilusão da fama, e a realidade da nossa “missão”?

Como pretendemos estabelecer o equilíbrio e procurar a possibilidade de auto sustentação como profissionais?

Temos consciência do nosso papel como agentes de construção de cidadania?

Vamos refletir: A profissão agora está na moda, como nunca  esteve, e  muitos jovens a procuram sem idéia nenhuma das especificidades técnicas, exigências legais, e dificuldade  em matéria de sobrevivência.

Como nos  adequar às novas tecnologias nesse mercado?

A profissão foi regulamentada em 1978 , Decreto nº 82.385, de 5 de outubro de 1978 - Regulamenta a Lei nº 6533, de 24/05/1978, e não podemos permitir a possibilidade retrocesso. Obviamente já são necessários os devidos ajustes à legislação. Nestes 33 anos muita coisa mudou, novas funções foram criadas. A nossa postura e consciência profissional devem resistir a lobbys, e a qualquer interesse contrário à manutenção do único mecanismo legal, que nos defende como trabalhadores.

O que nós precisamos mesmo é discutir quem somos nós enquanto artistas e técnicos, nos conscientizarmos da importância do registro profissional , da  sindicalização , formação ética e profissional. Resumindo, o que precisamos é nos profissionalizarmos de fato e de  direito.  Os sindicatos  estão discutindo a reformulação do Quadro anexo de funções, que é necessária, para  podermos atuar objetivamente na luta pelos nossos direitos e consolidar nosso mercado de trabalho.

É comum o questionamento da necessidade do  registro, e o clamor pelo acesso livre ao trabalho artístico. Interessante constatar como todos se acham talentosos o suficiente, e prontos para subir ao palco, ou tomar a frente das  câmeras sem a menor preparação, ou formação sistemática.

Sem união e clareza de princípios não seremos categoria.

Claro está que registro profissional não é um certificado de qualidade e sim de habilitação ou capacitação profissional.

Um trabalhador não vê o seu sindicato como “coisa sem importância, minimizando a sua função. 

A visão de alguns  é de que o “sindicato” é coisa de operário e os artistas não se vêem como trabalhadores , aprendi isso com Aluizio Cherobim, nosso baluarte artista, sindicalista do Paraná, lamentavelmente falecido este ano.

A dignidade do exercício da profissão foi evidenciada na época da didatura, pois havia uma resistência.

Nós tínhamos um objetivo artístico e estético.  O objetivo de resistir serviu como elo de união.

No momento da  redemocratização  desaparece esse objetivo , porque de certa forma estava conquistado.

E cada um passou a  pensar individualmente, apenas no seu ganha pão.  

E  ficamos muito de “pires” na mão. Nós reclamávamos da censura, da ingerência do  Estado,  mas queríamos que o Estado financiasse.

Até hoje olha-se para  o Ministério da Cultura como  um órgão subvencionador. Não tínhamos até aquele momento uma política cultural, hoje é

diferente, temos um Plano Nacional de Cultura, um Sistema Nacional de Cultura.  

E sem dúvida esse Sistema também deverá ter a observância da Lei 6533/78, e implementado, será mais um instrumento para uma gestão compartilhada entre Estado e  Sociedade, integrando os três níveis de Governo para uma atuação pactuada e planejada, democratizando as decisões intra e inter governos e, garantindo a participação da sociedade.

O destaque dessa construção por Estados e Municípios, inclusive já em processo em todo Brasil, claro com diferenças, engloba a constituição de conselhos de política cultural democráticos, realização de conferências, elaboração de planos de cultura através da participação da sociedade aprovados pelos legislativos, criação de sistemas de financiamento com fundos específicos para a cultura, indicadores culturais.



È chegada a hora de atender o chamado do amadurecimento, e aprender as lições ensinadas por tantos anos de luta pelos nossos direitos.

Precisamos nos unir para garantir condições de trabalho, contratação digna, possibilidade de aposentadoria, e o mais importante: garantir que o nosso público seja brindado com o nosso grande potencial criativo, nossa seriedade profissional, comprometimento com a qualidade e a nossa decisão de fazer a diferença.